Mudanças de humor constantes na adolescência podem evoluir para bipolaridade

Irritabilidade e mudanças no humor são manifestações típicas da adolescência. Porém, dependendo da cronicidade e dos prejuízos causados por essa instabilidade emocional, é preciso pensar na ciclotimia, um dos tipos do transtorno do espectro bipolar. O Transtorno Ciclotímico foi incorporado no DSM-V aos transtornos do espectro bipolar.

Estudos epidemiológicos sugerem que esse a ciclotimia é um dos transtornos de humor mais prevalentes, porém raramente é diagnosticada em crianças e adolescentes. Por outro lado, a literatura científica mostra que mais da metade dos pacientes com depressão bipolar apresentava temperamento ciclotímico na infância e adolescência, sendo a presença da ciclotimia em idade precoce um preditor para o desenvolvimento do transtorno bipolar na vida adulta.

Início precoce
De acordo com a neuropsicóloga Thaís Quaranta, Coordenadora da Pós-Graduação em Saúde Mental e Psicopatologia na Infância e Adolescência da APAE-SP, a ciclotimia é caracterizada por oscilações de humor de início precoce, associadas à ansiedade e à impulsividade. “Uma vez que as manifestações podem ter início na infância ou na adolescência, é preciso uma atenção maior à instabilidade emocional para diferenciar o normal do patológico”, cita.

Exageradamente
Uma das principais características da ciclotimia é o aumento da reatividade do humor aos estímulos ambientais. Em outras palavras, são aquelas pessoas que têm reações excessivas e exageradas aos acontecimentos da vida. “Quando acontece algo bom, surgem comportamentos eufóricos, entusiasmantes, alegres e expansivos. Já os eventos negativos costumam provocar muita tristeza, prostração, angústia, desespero e até mesmo ideação suicida. Tudo é exagerado e desproporcional aos fatos”, cita Thaís.

O medo de ser reprovado ou rejeitado socialmente é outro aspecto comum na ciclotimia. “Esse receio pode levar ao desenvolvimento de comportamentos submissos e aumenta a chance de envolvimento em relacionamentos abusivos. Além disso, pode levar a uma tendência patológica de agradar excessivamente aos outros”, adiciona a psicóloga.

Intensidade e amplitude
Episódios de mania e depressão que se alternam e que causam prejuízos enormes em todos os aspectos da vida são os sintomas mais conhecidos do transtorno bipolar tipo I, a forma mais grave da doença. Entretanto, o conceito do transtorno bipolar evoluiu para o espectro bipolar, que passou a considerar diversas intensidades e amplitude nas manifestações clínicas da bipolaridade.

Essa falta de conhecimento explica a dificuldade em diagnosticar as formas mais brandas do transtorno bipolar, como a ciclotimia. “Nesse espectro, há mais sintomas depressivos do que hipomaníacos. A hipomania é uma manifestação mais leve e não tão evidente quanto a mania, que é típica do transtorno bipolar I”, diz Thaís.

“Em crianças e adolescentes, a hipomania pode significar um aumento da irritabilidade e da impulsividade, por exemplo. Porém, é interessante notar na prática clínica a queixa dos pais ou do próprio paciente é sobre os sintomas da fase depressiva. As fases hipomaníacas são pouco referenciadas ou lembradas”, afirma a psicóloga.

E se você está pensando que os sintomas da depressão são aqueles já conhecidos, da pessoa trancada no quarto, atenção: a depressão na ciclotimia ou nos outros tipos de bipolaridade costumam ser diferentes. “Na depressão atípica ou bipolar há aumento da necessidade de dormir, enquanto na típica é mais comum apresentar insônia. O aumento do apetite e ganho de peso são bem peculiares da depressão bipolar. Já na unipolar, em geral, há perda do apetite e de peso”, ressalta Thaís.

Na depressão bipolar, um evento positivo é capaz de melhorar o humor, mesmo que temporariamente. Isso não ocorre na depressão típica. Outra característica é o aumento da sensibilidade a críticas e rejeição. Nessa fase se a pessoa for rejeitada ou criticada, pode haver um agravamento do quadro.

Risco de suicídio aumentado
A instabilidade do humor ciclotímico, a extrema reatividade emocional e a impulsividade podem desempenhar um papel importante nos comportamentos suicidas, fornecendo a energia e o impulso necessários para cometer o ato. “Há uma preocupação maior com o risco de suicídio em quem apresenta a depressão atípica ou bipolar. E isso é ainda mais alarmante no público adolescente”, reforça Thaís.

Tratamento precoce é fundamental
Os diagnósticos psiquiátricos em crianças e adolescentes demandam mais tempo. É preciso observar de forma minuciosa os comportamentos, analisar o histórico familiar, falar com a escola e com a família durante o processo. Ainda assim, vale citar que em muitos casos há remissão dos sintomas na vida adulta. O tratamento envolve medicação e psicoterapia, especialmente a abordagem da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC).

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